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"As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças."


Manoel de Barros





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O apanhador de desperdícios


Manoel de Barros




Uso a palavra para compor meus silêncios.

Não gosto das palavras

fatigadas de informar.

Dou mais respeito

às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas.

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim um atraso de nascença.

Eu fui aparelhado

para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.

Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.

Porque eu não sou da informática:

eu sou da invencionática.

Só uso a palavra para compor meus silêncios.


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Como é a sua relação com a natureza?


No início desta semana, abri nos meus Stories uma caixa com essa pergunta. Fiquei muito feliz com a generosidade de quem participou dessa conversa e encantada com as respostas.


Uma necessidade diária, um chamado ancestral, um retorno ao que nos é essencial, uma experiência de paz... Há tantas formas de viver e expressar essa relação. Impossível descrever de forma única ou definitiva um relacionamento em que experimentamos o belo, o perfeito, o divino e, simultaneamente, o mistério, o brutal, o incontrolável.


Quando penso na minha relação com a natureza, lembro-me do genial Manoel de Barros. “Meu quintal é maior que o mundo”, disse o poeta, revelando que a partir do microcosmo do seu quintal, povoado de sapos e insetos, ritmado pelo fluir das águas e cantar dos pássaros, ele se relaciona com a vastidão de todo universo. Gosto de fazer esse exercício, encontrar a natureza no espaço da própria casa, inclusive no corpo, nossa morada mais íntima, igualmente povoada e ritmada pela natureza.


Também me agrada o movimento inverso: fazer do mundo meu quintal. Não é preciso ir longe, uma volta na quadra já é suficiente para testemunhar o apelo estridente do quero-quero, o perfume do jasmineiro em flor, até o cocô do cachorro do vizinho distraído – como em qualquer relação, nem tudo cheira bem o tempo todo. É assim com a natureza que há em mim, é assim com a natureza que há em toda parte.


E para você, como é?



Photos by Alex Iby, Ramesh Iyer, Noah Buscher and Ian Stauffer on @unsplash


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